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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Por que não está chovendo no Sudeste do Brasil?

Por que não está chovendo no Sudeste do Brasil?


Gustavo Carlos Juan Escobar - Atualizado em 07/02/2014


Aproximadamente desde meados do mês de Dezembro do ano passado até o presente, a Região Sudeste do Brasil tem apresentado temperaturas máximas extremas acima da média e valores escassos de chuva. Em várias localidades desta Região registraram-se recordes de temperatura em um período de 70 anos. A falta de chuva e as elevadas temperaturas também favoreceram a ocorrência de valores baixos e extremos de umidade relativa do ar. Várias localidades do interior de São Paulo (SP) atingiram valores inferiores a 20%.
A Figura 1 mostra o mapa de anomalias de precipitação do mês de janeiro. Observa-se uma ampla área com valores negativos (tons laranja) cobrindo mais do 70% do território brasileiro. Sobre o Sudeste do Brasil, por exemplo, os valores negativos foram inferiores a 200 mm.
                                                                          FIGURA 1
Durante o verão,  principalmente em regiões tropicais, a chuva e a temperatura tem um comportamento inversamente proporcional. Isto significa que, quando a nebulosidade é significativa e chove, a temperatura diminui e quando a nebulosidade é escassa a temperatura aumenta. A falta de nebulosidade favorece o aumento da incidência da radiação solar sobre a superfície da terra, trazendo como consequência direta um aumento na temperatura do ar. Esta é a explicação do porquê da ocorrência de temperaturas tão elevadas na Região Sudeste do Brasil.
Qual é causa da falta de chuva e/ou de nebulosidade?
A chuva é provocada por duas condições necessárias: umidade suficiente e mecanismo de levantamento do ar. Se faltar alguma destas condições, não ocorrerá chuva. Em condições normais a chuva de verão sobre o Sudeste é provocada pela abundante umidade do ar, trazida da região amazônica, pelas elevadas temperaturas e pela atuação de sistemas de baixa pressão (ciclones subtropicais, cavados, frentes oceânicas).
Durante este período de estiagem, grande parte da Região Sudeste vem sendo influenciada por um sistema de circulação anticiclônica anômalo centrado na troposfera média, que inibe o mecanismo de levantamento do ar. A presença deste sistema provoca movimentos descendentes (subsidência), favorecendo a compressão do ar e em consequência o aumento da temperatura e a diminuição da umidade do ar. 
A Figura 2, mostra o campo de anomalia de altura geopotencial em 500 hPa correspondetente ao mês de janeiro de 2014.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          FIGURA 2 
Notam-se dois máximos anômalos significativos, um localizado no oceano Pacífico Sul, e outro no Atlântico, entre os paralelos 20S e 40S.  Sobre a Patagônia argentina e o Atlântico Sul observa-se uma ampla área com anomalias negativas associada à frequente passagens de sistemas de baixa pressão (frentes e ciclones).  A combinação do máximo e do mínimo anômalo do Atlântico Sul determina e direciona os sistemas frontais frios desde o sul do continente até, aproximadamente o paralelo 35S, na altura do centro da Argentina e do Uruguai. Desta maneira o ar frio proveniente do sul fica restrito a estas latitudes, sem conseguir avançar para nordeste e penetrar sobre o território brasileiro. O máximo anômalo de altura geopotencial do Atlântico impede que os sistemas transientes (ciclones, anticiclones, cavados e frentes) avancem pelo mar até latitudes mais baixas e consigam instabilizar a Região Sudeste do Brasil. Este é a explicação da falta de chuva na Região Sudeste do Brasil.
A Figura 3, mostra o campo de omega (mecanislamo de levantamento) em 500 hPa correspondente ao mês de janeiro de 2014. Nota-se uma ampla área com valores positivos (tons laranja) sobre grande parte do Sudeste do Brasil, asssociada à forte subsidência de ar. Em contrapartida, observa uma outra ampla área com valores negativos sobre parte do Sul do Brasil, norte e nordeste da Argentina, Paraguai, Bolivia, Peru e parte da região amazônica do Brasil.
                                                                                FIGURA 3
 A Figura 4, mostra o campo de anomalia de vento em 850 hPa (aproximadamente 1500 m de altitude) correspondente ao mês de janeiro de 2014. Pode-se observar uma região bastante abrangente com anomalias positivas de quadrante sudeste, se estendendo desde o Atlântico Sul até o Norte do Brasil. Este padrão de ventos predominantes é um reflexo da atuação do anticiclone em 500 hpa mencionado anteriormente. Em condições normais os ventos nas camadas baixas são predominantes do quadrante noroeste, favorecendo a intrusão de ar úmido da região amazônica para o Sudeste do Brasil.
                                                                                                                     FIGURA 4
 O resultado deste padrão de circulação predominante na baixa e média troposfera inibe a formação de episódios de Zona de Convergência de Umidade (ZCOU) e de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), principais sistemas meteorológicos causadores de chuvas abundantes na Região Sudeste do Brasil.
 A tendência para os próximos dias é pouco animadora em relação a alguma mudança nas condições meteorológicos. Isto significa que o calor, a baixa umidade do ar e escassez de chuva deverão persistir durante aproximadamente as próximas duas semanas.
A Figuras 4 e 5 mostram a previsão das anomalias de chuva para as próximas duas semanas, geradas pelo modelo Global do CPTEC; 
                                                             FIGURA 4
                                                            FIGURA 5
Para os próximos 15 dias, nota-se uma ampla área com anomalias negativas de chuva  sobre grande parte do Sudeste e parte das Regiões Centro-Oeste e Nordeste do Brasil. Os valores negativos de anomalias superam os 100 mm, indicando que a estiagem deverá persistir ainda por mais um período.
Outros modelos globais provenientes de centros operacionais estrangeiros são concordantes com a previsão do CPTEC, indicando que a confiabilidade da previsão é moderada ou alta.

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